“Ontem á tarde, quando o Sol morria,
A natureza era um poema santo,
De cada moita a escuridão saía,
De cada gruta rebentava um canto,
Ontem á tarde, quando o sol morria.”
Engraçado.
A vida é estranha (sinto que poderia ter explicado isso
melhor com uma comparação, mas assim ficou bom também).
Ela estava a ler um poema, não muito concentrada... Estava
pensando no filme que tinha visto ontem, na fuga e em pontes. O seu ônibus estava
fazendo o caminho de sempre e como sempre passava por de baixo de uma passarela
em frente a um shopping. O ônibus então mudou de lado de pista e sentindo isso
parou a sua leitura e percebeu que todos estavam olhando para o lado.
“Do céu azul na profundeza escura
Brilhava a estrela, como um fruto louro,
E qual a foice, que no chão fulgura,
Mostrava a lua o semicírc’lo d’ouro,
Do céu azul na profundeza escura.”
Sangue. Muito sangue. Ela não esperava ver isso, esperava
uma reforma ou algo do tipo, mas não sangue!
Atravessar pontes, fugir, passarela, sangue no chão. Talvez tenha
sido isso...
Historias tristes não acontecem só em filmes, pessoas não se
sentem incompletas só na ficção, a vida não é perfeita e será que não há fuga
mesmo?
“Larga harmonia embalsamava os ares!
Cantava o ninho – suspirava o lago...
E a verde pluma dos sutis palmares
Tinha das ondas o murmúrio vago...
Larga harmonia embalsamava os ares.”*
Bom... A poesia de pouco importava agora, noticias como essas
não seriam divulgadas e o ônibus passava pela rua.
E alguém atravessava a ponte.
*Fragmentos do poema de Castro Alves “Murmúrios da Tarde”
@tehquintela
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