quarta-feira, 26 de outubro de 2011



O Guia do Mochileiro das Galáxias teve, no que nós chamamos ridiculamente de passado, muito que dizer sobre universos paralelos. No entanto, a maior parte desse conteúdo é incompreensível para qualquer um abaixo do nível Deus Avançado e, como já havia sido determinado que todos os deuses conhecidos tinham surgido uns bons três milionésimos de segundo após o início do universo e não, como costumam dizer por aí, uma semana antes, eles já têm muita coisa para explicar só por causa disso e não estão disponíveis para tecer comentários sobre temas profundos de física.

Uma coisa encorajadora que o Guia tem a dizer sobre os universos paralelos é que você não tem a menor chance de compreendê-los. Você pode, portanto, dizer coisas como “O quê?” e “Hein?” e até mesmo ficar vesgo e fazer papel de tolo sem ter medo de parecer ridículo.

A primeira coisa que devemos saber sobre os universos paralelos, explica o Guia, é que eles não são paralelos.

Também é importante saber que eles não são, estritamente falando, universos, mas fica mais fácil tentar compreender isso um pouco depois, após compreender que tudo o que você havia compreendido até então não é verdade.

O motivo pelo qual não são universos é que qualquer universo em particular não chega exatamente a ser uma coisa, mas sim uma maneira de compreender o que é tecnicamente conhecido como MGTC, Mistureba Generalizada de Todas as Coisas. A Mistureba Generalizada de Todas as Coisas também não existe na prática — é apenas a soma total de todas as maneiras diferentes que haveria para compreendê-la, caso existisse uma.

O motivo pelo qual não são paralelos é o mesmo pelo qual o mar não é paralelo. Não significa nada. Você pode fatiar a Mistureba Generalizada de Todas as Coisas do jeito que quiser e geralmente vai acabar com algo que alguém vai chamar de lar.

Por favor, sinta-se à vontade para enlouquecer agora.
                                                                                        
                                                                                   Praticamente Inofensiva, capítulo 3
   

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

A Câmara Secreta

Não tema os fantasmas desta casa; eles são a menor de suas preocupações.
Pessoalmente, acho os barulhos que eles fazem reconfortantes,
os rangidos e passos no meio da noite,
seus truquezinhos de esconder coisas, ou tirá-las do lugar, acho
meigos, não pertuquietantes. Fazem o lugar se parecer muito mais com um lar.
Habitado.
À parte os fantasmas, nada vive aqui por muito tempo. Nem gatos,
nem ratos, nem moscas, nem sonhos, nem morcegos. Dois dias atrás
vi uma borboleta,
uma monarca, acho, que dançava de quarto em quarto
e pousava nas paredes e esperava perto de mim.
Não há flores nesta casa vazia,
e, temendo que a borboleta morresse de fome, forcei uma janela até escancará-la,
fiz minhas duas mãos em copas em torno do seu ser farfalhante,
e, sentindo suas asas beijando-me as palmas tão suavemente,
a pus para fora, e a vi voar para longe.
Tenho pouca paciência com as estações aqui, mas
a sua chegada aliviou o frio deste inverno.
Por favor, ande por aí. Explore quanto quiser.
Rompi com a tradição em alguns pontos. Se há
um cômodo trancado aqui, você jamais saberá. Não vai encontrar
velhos ossos ou cabelos na lareira do porão. Não encontrará sangue.
Olhe:
só ferramentas, uma máquina de lavar, uma secadora, um aquecedor
de água e um molho de chaves.
Nada que possa alarmar você. Nada sombrio.
Posso ser carrancudo, talvez, mas apenas tão carrancudo
como qualquer um que tenha sofrido o que sofri. Infortúnio,
descuido ou dor, o que importa é a perda. Você verá
a mágoa perdurar em meus olhos, e sonhará
pelos corredores desta casa. Trazendo um pouco de verão
no seu olhar, e com seu sorriso
Enquanto estiver aqui, é claro, você ouvirá os fantasmas, sempre no quarto ao lado,
e pode acordar ao meu lado à noite,
sabendo que há um espaço sem porta
sabendo que há um lugar que está trancado mas que não está lá. Ouvindo-os
lutar, gemer, bater, pisar.
Se você for sábia, correrá para a noite, farfalhando para o ar frio
vestindo, talvez, a camisola mais rendada. Os seixos duros da estrada
farão seus pés sangrarem enquanto corre,
portanto, se eu quisesse, poderia segui-la,
saboreando o sangue e os oceanos de suas lágrimas. Em vez disso, esperarei,
aqui, no meu lugar particular, e logo porei
uma vela
na janela, amor, para guiá-la na volta.
O mundo farfalha feito insetos. Acho que é assim que hei de me lembrar de você,
minha cabeça entre as saliências brancas de seus seios,
ouvindo as câmaras do seu coração.
-  Neil Gaiman

Obrigada Sérgio por me apresentar esse ótimo autor que combinou comigo. @tehquintela

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Tempos perdidos


Deixe o sorrido de lado, já foi muito usado.
Quero ver o seu rosto agora.
Livre.
Tudo o que aconteceu, irá ser lembrado.
Muitas vezes esquecido.
Mas sempre estará aqui.
Chega de sorrir!
Olha
Veja o que nós nos tornamos
Normais.
Solte o cabelo
Mude de expressão.
Olha para mim de uma vez por todas!
Castanhos, lembra?
Lembra?
Lembr?
Lemb?
Lem?
Le?
L?
?




















@julborges

Paciência.

Acordo com você ao meu lado, dizendo que é hora de ir embora;
Arrumo as minhas malas, pego a minha escova de dente e digo a mim mesmo que a é hora é agora.
Deixo a mala para trás, entro no carro convencido de que vamos embora de vez.
Ligo o carro, fecho as janelas e você se vai.
 Mudo a rota e volto para rotina.
Até quando?
Dentro da sala, vejo você lá fora, me dizendo para ir logo senão eu irei me atrasar, de novo. 
Saiu e digo que não possível, que já havíamos conversado sobre isso, mas você sempre me convence do contrário; tento uma fuga, mas sou barrado pelos deveres.
Ah! Um dia...
... E esse dia há de chegar.
Fugirei.
De vez.
Com você, Vento.
Mas por enquanto não me provoque. Saiba que nunca esquecerei de você, me visite quando sentir que posso de uma vez por todas fugir...
... Mas por enquanto...
                                                                                                                       ... Não há fuga.

















@Julborges

Insight

Todo o corpo doía, todo pensamento era em vão, toda lembrança parecia que não tinha existido, porém ela imaginava que outras coisas poderiam ter acontecido. Conflito entre realidade e imaginação. 

Não fazia sentindo, nunca fez... Um pequeno impulso já é suficiente para que tudo voltasse e nem sempre parecia que aquilo poderia ir embora.

Quando ela menos percebeu, aquilo se foi, mas ela sabe... Vai voltar.

Sorrisos falsos são só tentativas.

Conversas banais, esconderijos.

Livros e filmes, aconchego.

Mas para variar:

Não há fuga. 

                                            @tehquintela

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Lonas amarradas esperando pelo sopro da vida que virá a noite.
Risos vermelhos.
Amores não correspondidos.
Mãos prevendo o futuro de corações partidos.
 Homens com o poder de engolir mais do que palavras.
 Essa noite não se repetirá tudo será único.
 Ao fechar os olhos perceberá que tudo isso é real.
O gosto do seu primeiro amor voltará aos seus lábios.
 A dança ao som do piano será completa dessa vez.
 Ao amanhecer tudo voltará ao normal.
Mas você não irá esquecer-se de suas palavras, 
De suas danças,
 De suas canções
  E que a sua vida adquiriu tons diferentes
Pelo menos por uma noite.










@Julborges

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Lying In The Dark

Ela sorria pra ele.
Só sorria, às vezes isso basta.
Aqueles 32 dentes, lindos como o dona, de longe faziam ele tão feliz, só a presença dela.
Eram jovens, mas pareciam tão velhos.
Aquilo que eles tinham... Era tão bonito, era para que todo do ambiente sentisse, alguns se incomodavam, outros achavam que era algo surreal... Parecia algo de uma serie romântica de poucos capítulos.
Ele achava que era tudo simples, ela achava engraçado isso nele.
Uma música calma de fundo, alguns livros para melhorar o ambiente, era isso.
Só isso.
Talvez seja pedir demais, não sei.
Mas eles ficavam bem em dividir aquele pequeno espaço.
Nenhum toque, muitas palavras e um sorriso envergonhado.
O que era amor se tornou algo além.


                                                                                                                 @tehquintela