sábado, 31 de março de 2012

Oh, she's only seventeen.


Com 17 anos, ela fugiu de casa e mudou de nome, contava mentiras e vivia.

Com 17 anos ela tomava Bloody Mary no café da manhã e se preparava para o dia que teria.

Reclamava dos amigos, da família e do namorado.

Com 17 anos achava que já tinha vivido a vida, e às vezes trocava a bebida matinal por chás de cogumelos.

Com 17 anos ela já tinha escrito um livro de poesias e já pensara em se suicidar, se achava velha.

Com 17 anos já tinha uma melhor amiga que era como uma libélula.

Com 17 anos já tinha visitado outros mundos e sofrido com a distância.

Com 17 anos ainda era jovem o suficiente para saber tudo, mas ainda não sabia disso.

Com 17 anos sonhava ir para o sul, tinha esperança por um mundo melhor até que viu que tudo era diatópico, mas as vezes achava que a terra era praticamente inofensiva e assim ria de tudo.

Com 17 anos sofria com Werther  e se transformava com Kafka.

Com 17 anos ainda esperava por uma mensagem especial na caixa de correios, porque afinal: O mundo é mágico.

Com 17 anos olhava as nuvens e via que tudo era arte e destruição, como isso era bonito.

Com 17 anos roubava livros e descobria clubes.

Com 17 anos:

Esquecia,

lembrava,

sonhava,

morria.

Com 17 anos imaginava o que seria viver a vida, aquela melancolia que não te largava então ela fugia.

Parecia ser os seus últimos dias e tudo estava para acontecer.

Ela viveria até antes do sol nascer, veria tudo aquilo desfalecer, como na primeira vez.

Por quê?

Está tudo acontecendo, é apenas um fim e ela esta crescendo. 

Ela não tem mais apenas 17 anos.

@tehquintela

sexta-feira, 30 de março de 2012

Tempo Morto


Não fazia barulho.
Não se ouvia mais nada.
Sentia medo.
Como aquilo era possível?
O tempo havia parado?
Estava surdo?
O que havia acontecido?
O sol entrou pela janela invadindo os cantos mais obscuros daquele piso escuro que abrigava xicaras espalhadas pelo chão. Não havia mais ordem naquele apartamento.
As paredes se recusavam deixar de escutar e reproduzir o que havia sido dito repetidamente naquele silencio mudo.
Não se tinha força para mudar nada de lugar, roupas que iam para o armário, sozinhas, estavam cansadas de esperar alguém as colocarem em seu devido lugar.
O cachorro foi passear sozinho, ergueu as orelhas e antes de passar pela porta deu uma ultima olhada no seu dono. Que estava ainda na mesma posição.
 Ah... não existe mais esperança... talvez eu volte um dia, pensou o cachorro com a sua coleira em sua boa. Saiu á procura daquela que havia deixado seu dono naquela posição. Ou não.
A torneira pingava procurando encontrar a garganta que antes saciava a sede, não encontrou ninguém, Apenas o ralo, que agora estava cansado de tentar entender o que se passava ali.
O sol, agora se fora, e a criatura que antes se encontrava no chão havia se mexido, havia vida ainda. Abriu os olhos, tentou entender, mas a chaleira apitou.
 Quem havia colocado agua na chaleira?
Seu apartamento estava arrumado. Tudo tinha voltado ao lugar, á torneira não pingava mais, o cachorro havia voltado ao seu devido lugar, as roupas no armário, tudo estava como antes.
Levantou devagar, não sentia mais as pernas.  Esticou-se, e foi até a cozinha onde a chaleira estava quebrando o silencio com o seu grito, o grito que deveria ter sido dado por aquele que desligava o fogo.
Chá sempre acalma os nervos. Quais nervos mesmo?
Olhou em volta e viu o que faltava.
Faltava algo, mas não sabia o que.
Havia deixado algum detalhe escapar, não era possível.
Procurou rastros por aquilo que fazia falta.
Nada no calendário, nas mensagens nada de novo, nada.
Veio.
A brisa da madrugada, lembrando que o que fazia falta era Ela.
A pessoa que dava vida aquele apartamento. Que agora não mostrava mais nada. Era apenas um apartamento.
Pegou as chaves e saiu.
Ao olhar para trás, viu um bilhete colado na porta.
“Não se pode mudar tudo, não se pode salvar o que já foi perdido.
Procurei entender o que se passava, não entendi muito menos você.
Tentamos.
Mudamos.
E agora, o resto do resto”.
Jornal de 23/09/2012:
Apartamento à venda. 




@julborges

sábado, 24 de março de 2012


Caros amigos e leitores, 

Quando eu for, fiquem bem, com o tempo irei me tornar só um sonho bonito dentro de vocês.

Preciso partir, há algo me esperando do outro lado e vamos combinar, anda meio chato por aqui não é?

Não tem problema algum com vocês, não estou querendo ser chata, mas cansei.

Sabe aquele dia em que você atravessa a rua sem olhar para os dois lados e espera que um carro apareça do nada?

Então...

Não sei se chegaria aos limites de Virginia Woolf e Sylvia Plath, mas a ideia do carro me agrada...

Vê aquelas plantas? Vê algo ao seu redor?

Tudo esta desmoronando, tudo esta morrendo.

Inclusive eu e você.

Não vejo problemas em adiantar isso, pelo menos alguma vez na vida não estria procrastinando algo.

Viver é procrastinar a morte.

Isso que estou escrevendo também é. E talvez valha de alguma coisa não é?

Ótimos escritores se mataram e assim deixaram boas obras.

Bom... Pelo menos deixaram alguma coisa. Todo mundo deixa algo.

Acho que por isso vou ter que procrastinar mais uma coisa na minha vida. Mas não se preocupe! Um dia essa carta não vai ter continuação.


                                                                         

                                                                              Futura Escritora Suicida.
 

sexta-feira, 23 de março de 2012

When you gonna get yourself back on your feet?



Foi em um dia quente e ela estava a tomar café, sozinha e lendo um livro. Imersa aos seus pensamentos não percebeu que alguém chegara ao seu lado e estava a observando.

“... - mas e sim uma alegria esfuziante- é como o muleque poeira no cantinho da criança dormindo no berço agora e eu te amo, chuva há de cair no nosso telhado um dia meu amor – e estamos á luz de vela de modo que as loucuras ficam ainda mais engraçadas e as historias de fantasmas mais apavorantes – tem aquela do – mas a dor, adoro as coisas boas e não esqueço e esqueço a dor que sinto-” *

Ela levanta os olhos sobre o livro:

-Olá!  Como é bom te ver por aqui.

-Oi.

-Aceita um café? Tem aquele chocolate gostoso em baixo...

-Não, obrigado.

-Tudo bem.

Ela olha, pensando em voltar ao livro:

-Você não ficou surpresa em me ver?

-Não e vou terminar essa pagina.

Ele olha impaciente para os lados e repara que as pessoas naquele lugar estranham alguém lendo:

-Pronto! Ótimo livro. Você deveria ler.

-Eu já li, é bom mesmo.

Ela olha para um lado, olha para o outro:

-Não esta mesmo surpresa em me ver?

-Não. Eu sempre soube.

-Por quê?

-“Todos os românticos encontram o mesmo destino...”

-Eu não sou romântico, você sabe disso.

-Você realmente não mudou nada.

-Mudei sim. Você que esta deixando a situação mais bonita na sua cabeça.

-Bom. Todos os românticos terminam com alguém meio chato.
 
-Eu sou chato pra caramba.

-Eu sei. Vai pagar o meu café?

-É aquele caro que você sempre toma?

-Sim, dos grandes ainda.

-Então não.

Ela levanta, vai até o caixa e ele fica sentado, esperando por ela. Ela volta e ele levanta e diz:

-Você que não mudou nada.

-Eu sei. Tomo o mesmo café á dez anos e vamos embora! Tenho muitos livros para te mostrar...

Ela pega a mão dele. Ele beija a testa dela e eles vão embora, viver aquilo que foi sonho um dia. 


*Os Subterrâneos – Jack Kerouac


@tehquintela

quinta-feira, 22 de março de 2012

Só um desabafo que talvez não faça sentido algum.


Você pode sumir, fugir, correr, se esconder. 

Eu sei que você tenta escapar de tudo isso que nos persegue, eu sei que você preferia que nada disso tivesse acontecido...

 “Tentamos fugir de nós mesmo todos os dias, mas se esquecer é impossível”

Esquecer – verbo transitivo indireto (de)

Esquecer de que?

De quem?

Do que?

Lamento lhe informar, mas se esquecer DE alguém pode ser tão difícil como se esquecer.

Por isso voltamos a essa fuga, às vezes pensamos que se corrermos tão rápido vamos deixar tudo aquilo para trás.

RUN FORREST RUN!

Pensamos que se afastando vamos esquecer, novamente:

Esquecer de que?

Lembranças não podem ser esquecidas, momentos não podem ser deixados de viver, não podemos voltar no tempo e você sabe que quando você estiver próximo de se esquecer, algo vai te lembrar de tudo aquilo...

Se esquecer é impossível e esquecer daqueles que formaram o que você é hoje...

Queridos, podemos tentar, mas vamos falhar.


@tehquintela

Nós nunca funcionamos com essa historia de ‘’dar algum tempo’’.
Sempre fomos ‘nós’, mesmo longe.
Longe de abraços, risos e piadas sem graça.
Passaram-se estações 
 Xicaras de chás
 Ingressos de cinema
E  dvd’s nunca assistidos.
Passaram e ainda passam. Mesmo longe.
Sei que o pra sempre não existe
Mas eu tenho uma certeza
 Que isso vai ser sempre amor
Mesmo que mude.
   




@Julborges

quarta-feira, 21 de março de 2012

Três estrofes.


E quem disse que tudo pode virar poesia?
Enquanto uma pessoa canta de um lado um senhor reclama do outro
Poético não?
Duas crianças sozinhas, indo viver...
Crescer.

E quem disse que tudo pode virar poesia?
A bolsa rosa que ela abria
E de lá tirava tudo que ela queria.
O mundo.
E vivia.

E quem disse que tudo pode virar poesia?
Talvez sejam sós palavras bem escolhidas,
Talvez seja só uma ordem de rimas,
Mas para ela foi algo tão bonito!
O poema mais belo do mundo.



@tehquintela

terça-feira, 20 de março de 2012

Escadas.


Isso era lindo.
Ele descia cada degrau com uma emoção
Saltitando.
Às vezes saltitava mais feliz, outras vezes saltitava acompanhado.
Se chegasse triste em casa, tinha a escada para subir e assim
- saltitar.
Não fazia diferença o lugar que iria, tinha a escada para descer e assim – saltitar.
Nada mais importava, assim percebera.
Tudo que fazia o levava ao mesmo lugar: a escada.
Poderíamos reclamar de subir tudo aquilo, ele não...
Ficava feliz porque aquilo o lembrava de que algumas coisas na vida nunca mudam. Você pode crescer, mudar ou até fugir, mas na maioria das vezes a escada vai continuar lá:
Para você saltitar. 







@tehquintela

segunda-feira, 19 de março de 2012

Por que você voltou?


“Ontem á tarde, quando o Sol morria,
A natureza era um poema santo,
De cada moita a escuridão saía,
De cada gruta rebentava um canto,
Ontem á tarde, quando o sol morria.”

Engraçado.

A vida é estranha (sinto que poderia ter explicado isso melhor com uma comparação, mas assim ficou bom também).

Ela estava a ler um poema, não muito concentrada... Estava pensando no filme que tinha visto ontem, na fuga e em pontes. O seu ônibus estava fazendo o caminho de sempre e como sempre passava por de baixo de uma passarela em frente a um shopping. O ônibus então mudou de lado de pista e sentindo isso parou a sua leitura e percebeu que todos estavam olhando para o lado.

 “Do céu azul na profundeza escura
Brilhava a estrela, como um fruto louro,
E qual a foice, que no chão fulgura,
Mostrava a lua o semicírc’lo d’ouro,
Do céu azul na profundeza escura.”

Sangue. Muito sangue. Ela não esperava ver isso, esperava uma reforma ou algo do tipo, mas não sangue! 

Atravessar pontes, fugir, passarela, sangue no chão. Talvez tenha sido isso... 

Historias tristes não acontecem só em filmes, pessoas não se sentem incompletas só na ficção, a vida não é perfeita e será que não há fuga mesmo?

“Larga harmonia embalsamava os ares!
Cantava o ninho – suspirava o lago...
E a verde pluma dos sutis palmares
Tinha das ondas o murmúrio vago...
Larga harmonia embalsamava os ares.”*

Bom... A poesia de pouco importava agora, noticias como essas não seriam divulgadas e o ônibus passava pela rua.


E alguém atravessava a ponte.
 
   
*Fragmentos do poema de Castro Alves “Murmúrios da Tarde” 


@tehquintela 

 






domingo, 18 de março de 2012


Um bom domingo é aquele em que 2 dos 3 filmes que você assistiu se tornam parte dos seus favoritos.

“We Bought a Zoo” eu esperava que fosse bom, já que é do Cameron Crowe. E  “It's Kind of a Funny Story” foi uma surpresa de tão lindo.


sábado, 17 de março de 2012

Dum spiro spero #2

"E se eu disesse que eu mudei de idéia vc ia ficar bravo comigo?"
"Não, eu quero passar a minha vida inteira com você."

quarta-feira, 14 de março de 2012

O Laço de Fita


Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!

Meu Deusl As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepital
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.





                                    (Castro Alves - Espumas Flutuantes)

terça-feira, 13 de março de 2012

segunda-feira, 12 de março de 2012

Então... Vamos falar de Kerouac?


Eu poderia ficar falando sobre seus livros, sua vida e esse blá, blá, blá de sempre, mas quem me conhece um pouco sabe que não sou muito fã de fazer analises então só vamos falar um pouco sobre o Jack.

Hoje, dia 12 de março de 2012, Keroauc estaria fazendo 90 anos, já assim percebemos que ele era um autor novo. Fez parte fundamental da geração beat.

Temos como destaque seu livro “On The Road”, em que Sal Paradise (Jack Kerouac) conta sobre a sua baita viagem junto com Dean Moriaty (Neal Cassady). O que poderia ser simplesmente uma narração se torna algo incrível com trechos que me emocionam cada vez que releio. “On the Road” é só o ponto de partida para alguém (como eu) que gostaria de cada vez mais se aprofundar na obra de Jack.

O que me agrada muito são suas descrições, lendo seus livros podemos sentir exatamente o que ele queria dizer, ele não poupa detalhes, palavras para isso.

Como a solidão pode ser descrita? 

Através de seus livros é possível ver essa descrição! Vemos que um ser humano só se conhece sozinho, mas que isso em exagero pode chegar a loucura.

Kerouac foi uma das pessoas que viveram a vida, a conheceram muito bem. Gosto de pegar “On the Road” e comparar com “Big Sur” nessas duas obras vemos, primeiramente, o menino Jack , depois, o homem Kerouac. 

Se um dia eu pudesse agradecer a alguém pelos meus textos e momentos de inspiração, Kerouac seria um deles, seria mais uma entre os muitos fãs a dizer “Thanks, Jack.”

E esse é o ponto. O que a obra de Kerouac trouxe para mim  é indescritível, esta um pouco em tudo que faço, escrevo, penso e ajo,  por isso nessa tarde de março estou aqui, tentado por meio de palavras fazer algo que sei que não vou conseguir: demonstrar o amor e gratidão que tenho por esse escritor.

É isso que posso fazer, para finalizar esse post (que considero incompleto) deixo algumas palavras dele, que espero que desperte em você o que despertou e mim e que me faz ler cada livro dele como se estivesse faminta e que me deixa com gostinho de quero mais.

“Minha obra encerra um livro de vastas proporções como o de Proust, com a diferença que as minhas memórias são escritas na corrida em vez de mais tarde doente numa cama. Por conta das objeções das minhas editoras eu não pude usar o mesmo nome para o mesmo personagem em obras diferentes. On the Road, Os Subterrâneos, Os vagabundos Iluminados, Doctor Saz, Maggie Cassady, Tristessa, Desolation Angels, Visões de Cody e os outros, incluindo este Big Sur, são apenas capítulos na grande obra que eu chamo de A lenda de Duluoz. Na minha velhice, pretendo juntar toda a minha obra e reinserir meu panteão de nomes regulares, encher a prateleira de livros e morrer feliz. Tudo isso forma uma enorme comédia vista pelos olho do pobre Ti Jean (eu), também conhecido como Jack Duluoz, o mundo de ação frenética e loucura e também de gentil doçura vista pela fechadura de seu olho.”

JACK KEROUAC (1922-1969) 


 @tehquintela

quarta-feira, 7 de março de 2012

Unknown Pleasures.


Hoje eu estava andando (sim, esse post vai ser em primeira pessoa), indo para o trabalho, dia normal. Usava a camiseta do Joy Division, ouvia Thiago Pethit e andava até que um homem de mais ou menos 40 anos, com uma daquelas toquinhas de proteção para o cabelo sai da padaria que eu passava na frente:

- Bonita camiseta! Joy Division não é?
-É, isso mesmo, capa do álbum...

Tiro o fone e continuo a andar.

-Isso ai que eu gosto! Joy Division, System of Down. Ian Curtis cantava muito!
- É... E depois teve o New Order, gosta?
-É bom, mas não é como o Joy Division. 

Então o homem entra por outra entrada na padaria.

-Tchau.
-Tchau.
Ás vezes nos surpreendemos com a vida, outras vezes nos surpreendemos com pessoas.

Unknown Pleasures.




@tehquintela


segunda-feira, 5 de março de 2012

Capítulo VIII Razão contra Sandice


Já o leitor compreendeu que era a razão que voltava à casa, e convidava a Sandice a sair, clamando, e com melhor jus, as palavras de Tartufo:

La maison est à moi, c´est à vous d´en sortir.*

Mas é sestro antigo da Sandice criar amor às casas alheias, de modo que, apenas senhora de uma, dificilmente lha farão despejar.É sestro; não se tira daí; há muito que lhe calejou a vergonha. Agora, se advertirmos no imenso número de casas que ocupa, umas de vez, outras durante as suas estações calmosas, concluiremos que esta amável peregrina é o terror dos proprietários. No nosso caso, houve quase um distúrbio à porta do meu cérebro, porque a adventícia não queria entregar a casa, e a dona não cedia da intenção de tomar o que era seu. Afinal, já a Sandice se contentava com um cantinho no sótão.
-Não, senhora - replicou a Razão - estou cansada de lhe ceder sótãos, cansada e experimentada, o que você quer é passar mansamente dos sótãos à sala de jantar, daí à de visitas e ao resto.
-Está bem, deixe-me ficar algum tempo mais, estou na pista de um mistério...
-Que mistério?
-De dois - emendou a Sandice-; o da vida e o da morte; peço-lhe, só uns dez minutos.
A Razão pôs-se a rir.
-Hás de ser sempre a mesma coisa... Sempre a mesma coisa... Sempre a mesma coisa...
E, dizendo isto, travou-lhe dos pulsos e arrastou-a para fora; depois entrou e fechou-se. A Sandice ainda gemeu algumas súplicas, grunhiu algumas zangas; mas desenganou-se depressa, deitou língua de fora, em ar de surriada, e foi andando...

*"A casa é minha, vós é que deveis sair."


Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis

sexta-feira, 2 de março de 2012

Três.


Um sonho?
Sumir.
Pegar a mochila, encher ela de livros e sair por ai. Pegar um ônibus e parar em algum lugar distante.
Sonho que vem desde quando era criança, imaginava explorar o mundo, conhecer pessoas... 
A diferença é que hoje eu tentaria me livrar disso.
Hoje eu andaria sem medo, sem cogitar a possibilidade de voltar para casa...
Sairia e esqueceria toda essa sujeira que esta aqui, esqueceria as pessoas que machuquei e as que me machucaram.
Talvez assim, esqueceria até as lembranças boas.



Esquecer.




Estar em um lugar onde ninguém te conhece, poder se recriar... Anonimato.
Talvez assim se importar com coisas realmente importantes.  O que é banal?




Correr, andar, ler.
“É surpreendente como as pessoas isoladas ficam famintas por livros.”
Talvez seja isso que preciso...
Fugir.




Sumir, esquecer, fugir:
Três verbos.



                                                                                                             @tehquintela