segunda-feira, 22 de agosto de 2011


“Não o sentido das palavras, mas o que são palavras? Acaso já não sei fazer rimas, como imitar Pope, Dryden, e até Shakespeare? Mas não consigo ficar parado ao sol o dia todo com os olhos postos na bola; não consigo senti o vôo da bola contra meu corpo e pensar apenas nela. Serei pelo resto da minha vida alguém que se agarra a franja das palavras. Não poderia, porém, viver com Percival e suportar sua estupidez. Vai torna-se grosseiro e roncar. Vai casar-se e haverá cenas de ternura no café da manhã. Agora, porém, ele ainda é jovem. Nenhum fio, nenhuma folha de papel interpõem-se entre ele e o sol, entre ele e a chuva, entre ele e a lua, quando jaz nu, rolando quente em sua cama. Agora, enquanto seguem pela estrada na carruagem, o rosto dele se mancha de vermelho e amarelo. Vai tirar o casaco e parar de pernas abertas, as mãos prontas, observando a meta. E vai rezar: 'Deus, fazei com que ganhemos a partida'; pensará apenas numa coisa: o time tem de vencer.”

As Ondas - Virginia Woolf.


Nenhum comentário:

Postar um comentário